Privadas de cultura?
Por Dana, Madalina
A imagem estereotipada da mulher grega difundida pelos autores clássicos é a da boa dona de casa, responsável pela boa gestão da casa desde muito nova: com 14 anos, uma jovem podia escrever uma lista de objetos domésticos (Xenofonte, Econômico, IX, 10). Seguindo o mesmo princípio, Teofrasto também aconselha dar às jovens uma educação letrada para que elas pudessem assumir melhor as responsabilidades domésticas. Por outro lado, Menandro afirma que educar uma mulher é “dar mais veneno a uma serpente” (F 702 Kock).
Alguns testemunhos mostram que a própria cidade poderia se encarregar da educação de seus futuros cidadãos, meninos e meninas (até um certo ponto) sem distinção. Assim, no século V a.C., Heródoto relata, em suas Histórias (VI, 27), o desespero dos habitantes de Quios quando o telhado da escola despencou sobre cento e vinte crianças que lá aprendiam as letras. É preciso notar que o historiador não especifica que se trata de meninos, o que nos faz pensar que a escola era mista. Três séculos mais tarde, uma inscrição em Téos na Ásia Menor menciona a fundação estabelecida por um cidadão abastado, Politrus, cujos rendimentos estavam destinados a financiar a educação dos mais jovens, meninos e meninas (Syll.3, 578). Pinturas em vasos representam jovens alunas aprendendo a ler e escrever, com tabuletas, styli ou rolos de papiro (1). No fim das contas, a educação das meninas, como a dos meninos, permanece uma questão de meio social. Na ilha de Lesbos, Safo (séc. VI a.C.), nascida de uma família rica e representante da poesia lírica ao lado do poeta Alceu (2), é a própria imagem da mulher de cultura (que hoje em dia chamaríamos de intelectual) (3).
Mulheres com rolos de papiro
Mulheres eruditas são frequentemente chamadas de “amigas das Musas”, patronas de toda a atividade literária, artística ou científica, a tal ponto que cada uma das poetas mais célebres é designada como “a décima Musa”. Ora, na arte, as Musas são representadas com um rolo de papiro ou uma tabuleta na mão, símbolos da atividade intelectual. Sobre as estelas funerárias do período helenístico, o rolo de papiro sobre a mão dos defuntos é equivalente à referência às Musas no texto do epigrama. As mulheres aparecem quase sempre associadas a seus maridos em atividades de leitura, nas cenas de banquete: o homem, estendido sobre um leito (kline), segura com uma mão um rolo de papiro desenrolado pela metade; a mulher, sentada na ponta da kline ou sobre uma cadeira, segura em uma mão seu véu, com uma atitude de reserva, e na outra mão, ela também segura um rolo ou uma tabuleta. Uma estela proveniente de Bizâncio (séc. I d. C.) mostra, no entanto, uma cena inédita, pois não é o homem, nem os dois esposos, mas a mulher sozinha que é representada com um rolo na mão. Ainda mais notável, apenas o nome da mulher está inscrito: Lisandra, filha de Doles, um patrônimo de origem trácia (I. Bizantion 368). Sentada em uma poltrona imponente, semelhante aos assentos de honra no teatro, a defunta segura na mão esquerda um volumen de grandes dimensões parcialmente desenrolado sobre seus joelhos. Assim, podemos perguntar o que essa representação revela sobre as esposas em Bizâncio, tão cultas quanto seus maridos, mas também sobre a valorização de status que daí decorre para a família.
Um espaço público para mulheres cultivadas
Para compreender a representação de mulheres sozinhas com rolos de papiro sobre as estelas, é preciso colocar esses monumentos em seu contexto, quer dizer em um espaço e em uma época. Estudos recentes propõem a “intelectualização” dos retratos do cidadão na imagística do período helenístico tardio. À imagem canônica da leitura – um jovem rapaz lendo –, é acrescentado no séc. II a.C. o motivo da jovem garota representada se ocupando da mesma atividade. Se, no período helenístico, o rolo de papiro simboliza a cultura (pela qual as pessoas modestas podiam, a partir de então, almejar), também é o símbolo de uma revolução de gênero: a cultura ocupa um lugar cada vez mais importante no repertório que valoriza as defuntas.