Apresentação
Tradução: Leite, Letticia; Bacelar, Agatha P.
Há muitos clichês em torno da Grécia antiga: ali as mulheres seriam reclusas, usariam véus ou estariam afastadas dos olhares, em um gineceu; sem exercer qualquer função cívica ou coletiva. Privadas de educação ou de cultura, elas viveriam à sombra dos homens, em uma cidade misógina. Sem subestimar a desigualdade entre homens e mulheres, esta exposição busca propor um outro olhar sobre a Grécia antiga (VII–II séc. a.C.). Ao integrar os novos achados dos trabalhos de filólogos, epigrafistas e arqueólogos, e ao recorrer a ferramentas recentes da pesquisa em história das mulheres e do gênero, a(o)s historiadora(e)s que contribuem para essa exposição irão possibilitar aos visitantes descobrir campos de ação e domínios em que as mulheres antigas agiam, gerenciavam, pensavam, criavam, amavam.
O gênero, como método de análise que postula a historicidade das categorias homens/mulheres e a dimensão social e cultural das identidades, permite que nos desvencilhemos dos clichês e percebamos as especificidades da sociedade grega: a importância primordial da distinção entre pessoas livres e escravas, uma definição do político diferente da atual e a variedade de contextos de ação individual.
Esta exposição é fruto de um programa de pesquisa do centro “Antropologia e História dos Mundos Antigos”, UMR 8210 ANHIMA (França).
Glossário:
- gyne, pl. gynaikes: mulher adulta, em geral livre e casada, e com filhos.
- aner, pl. andres: homem adulto, em geral livre. O termo assume frequentemente uma conotação positiva e designa o “bom cidadão”.
- anthropos, pl. anthropoi: ser humano, distinto de seres divinos e dos animais.
- gênero: ferramenta de análise que permite historicizar os critérios segundo os quais as sociedades diferenciam os homens e as mulheres e categorizam os indivíduos.
- oikos: casa, família, propriedade (incluindo bens imóveis e móveis, entre os quais os escravos).
- kyrios: homem livre cuja presença é necessária para garantir que uma mulher de sua família possa tomar a palavra publicamente.
- eros: desejo amoroso.
- polis, polites, politis: a polis designa a cidade (comunidade humana e territorial); o polites (pl. politai) é o cidadão e a politis (pl. politides), a cidadã. A politis e o polites não possuem os mesmos direitos (a politis é excluída das assembleias políticas e do governo da polis). Desses termos deriva, em português, a palavra “política”.
Bibliografia:
- Boehringer Sandra et Sebillotte Cuchet Violaine (dir.), Hommes et femmes dans l’Antiquité. Le genre : méthode et documents, Armand Colin, [2011] 2017.
- Site : http://www.matilda.education/
- Schmitt Pantel Pauline (éd.), Histoire des femmes en Occident, I. L’Antiquité, Paris, Plon, 1991.
- Bielman Anne, Femmes en public dans le monde hellénistique, Paris, Sedes, 2002.
- Winkler John J., Désir et contraintes en Grèce ancienne, trad. S. Boehringer et N. Picard, Paris, Epel, [1990] 2005.
- Boehringer Sandra, L’homosexualité féminine dans l’Antiquité grecque et romaine, Paris, Les Belles Lettres, 2007.
- Schmitt Pantel Pauline, Aithra et Pandora. Femmes, Genre et Cité dans la Grèce antique, Paris, L’Harmattan, 2009.
- Foxhall Lin, Studying Gender in Classical Antiquity, Cambridge, 2013.
- Boehringer Sandra et Sebillotte Cuchet Violaine, “Corps, sexualité et genre dans les mondes grec et romain”, Dialogues d’histoire ancienne, 40, 2015, p. 83-108.
- Sebillotte Cuchet Violaine, “Ces citoyennes qui reconfigurent le politique. Trente ans de travaux sur l’Antiquité grecque”, Citoyennetés, Clio FGH 43, 2016, p. 185-215.