Excluídas do esporte?
Por Villard, Flavien
O estereótipo de que todas as mulheres gregas teriam sido mantidas afastadas de atividades esportivas é tenaz. A imagem da esposa ateniense que, segundo Xenofonte (Econômico, X), deve ter na manutenção da casa sua única atividade física, não seria capaz de dar conta da miríade de situações conhecidas pelas mulheres na Grécia antiga. Na realidade, as atividades atléticas agonísticas (competitivas) não são um domínio do qual as mulheres, em seu conjunto, fossem excluídas. A participação delas depende de seu status e de sua cidade de origem – mulheres gregas podiam ser atuantes no espaço esportivo.
Assim, em muitas regiões, grupos de jovens garotas não casadas participam de corridas rituais de caráter agonístico: aqui, o estatuto matrimonial prima sobre o sexo. É o caso dos concursos dos Heraia, festival organizado em honra de Hera no estádio de Olímpia (1), da festa das Dionysiades em Esparta (2) ou ainda dos jogos organizados para as jovens mulheres, as nebai (“novas”) na Macedônia e as neai (mesmo significado) da Tessália (3). Alguns historiadores consideram que estes encontros, atos rituais que reuniam as adolescentes saídas das elites, simbolizariam a passagem à idade adulta, concretizada pelo casamento. Em outros casos, as atividades atléticas não separavam homens e mulheres, mas o grupo dos cidadãos do resto da população. Em Esparta, as mulheres livres participavam não apenas de corridas, mas também de exercícios de força, antes e depois do casamento.
As espartanas: uma atenção especial para as atividades físicas?
Esparta é frequentemente descrita como um modelo de cidade único na Grécia e a atividade atlética das mulheres é um ponto essencial na argumentação dessa descrição. Apresentar as mulheres espartanas como atletas completas é um topos (lugar comum) que percorre tanto a Antiguidade quanto a época contemporânea. E quando Edgard Degas toma a cidade do Peloponeso como tema, ele representa naturalmente as jovens desnudas que desafiam jovens rapazes em um terreno de treino.
Essa reputação é antiga e, desde a época clássica, em Atenas, vários autores com propósitos opostos propuseram essa ideia. Eurípides, em Andrômaca, e Aristófanes, em Lisístrata, utilizam esse clichê e fazem alguns de seus personagens dizer que os exercícios de corrida e de força tiravam todo o pudor sexual das espartanas e fazia delas mulheres sexualmente ativas. Ao contrário, Crítias (1), Xenofonte e Platão, defendem esse modelo voltado, segundo eles, para a teknopoiia (fabricação eficaz de crianças). No período romano, Propércio e Plutarco mantiveram a ambiguidade da imagem. Suas Espartanas, que manejam igualmente a lança e o disco, são cheias de atrativos e realizam melhor seus deveres de mãe.
Apesar da parcialidade desses testemunhos, é possível fazer algumas observações. Desde a época arcaica, Esparta se distingue de Atenas, pois as mulheres livres da cidade praticavam atividades físicas regulares, notadamente na perspectiva da teknopoiia. Duas atividades parecem ter sido privilegiadas: as corridas e os treinamentos de força como a bibasis, um exercício que envolvia lançar os calcanhares até os glúteos.
Heroínas atléticas
Nem todas as mulheres nos mitos são reduzidas a um papel passivo e afastadas das atividades físicas. Algumas histórias apresentam sob uma luz positiva figuras femininas com qualidades atléticas excepcionais. O ponto comum entre estas personagens é serem jovens mulheres não casadas (parthenoi) às quais as proezas esportivas conferem um atrativo suplementar. Algumas dessas heroínas são rebeldes ao casamento e todas recusam as atividades apresentadas como tradicionalmente femininas. Cada uma deve, finalmente, ceder ao poder de Afrodite, do qual nenhum mortal é capaz de escapar.
Atalanta era uma jovem acadiana, filha de Íaso, que se recusava a casar. Desde a época arcaica (Teógnis, Elegias, II, 1282-1293) até o período imperial, diversos autores afirmam que ela foge da casa paterna e realiza inúmeras façanhas. Em alguns autores, ela vence notadamente Peleu na luta, quando dos funerais do rei Pélias. A heroína acaba se deixando seduzir por Melânion, com quem ela se casa. O episódio de luta conhece grande sucesso na cerâmica grega durante o séc. VI a.C., seja na Ática ou em outras regiões. Atalanta, reconhecível na imagem por sua pele pálida, segura firmemente Peleu pela nuca, em uma posição de luta que lhe é vantajosa.
Outras versões contam uma outra história de Atalanta. Beócia, filha de Escoineu, a jovem mulher, que recusava o casamento, desafiava seus pretendentes na corrida, com a aprovação de seu pai. Sua história é relatada essencialmente pelos fragmentos do Catálogo das Mulheres de Hesíodo (fr. 73-76). Em decorrência de sua beleza e sua graça, os jovens homens que desejavam obter sua mão eram muitos. Hipômenes foi o único a sair vencedor dessa prova, graças às maçãs de ouro de Afrodite, que retardaram a corrida de Atalanta. Ele pode, assim, esposar a jovem e escapar da morte que esperava os concorrentes sem sucesso. Se esse mito parece ter tido pouco sucesso na cerâmica grega, a versão de Ovídio nas Metamorfoses (X, 560-680) influenciou a pintura europeia moderna. Como Guido Reni, diversos artistas escolheram representar o momento em que a jovem, colhendo as maçãs, aceita simbolicamente o casamento.
Em várias versões do mito, Cirene é apresentada como uma jovem garota atlética que entrava em combates com animais silvestres e lutou vitoriosamente contra um leão (Calímaco, Hinos, II, 91-92). Píndaro (Pítica IX, 21) afirma que ela era filha de Ipseu. Apolo, tomado de desejo por ela ao assistir essa luta, a raptou e levou à África, onde se uniu a ela. A figura de Cirene, vinculada à fundação da cidade de mesmo nome na Líbia, é, portanto, importante na região, e isso até a época imperial. Várias representações da jovem derrotando o leão nos chegaram, dentre elas este baixo-relevo do séc. II d.C. Nele, Carpos agradece a Cirene, representante da cidade, pela hospitalidade. Coroada na Líbia, a jovem aí aparece em toda a sua glória, resultado de proezas atléticas excepcionais.