As Amazonas, um mito?
Por Sebillotte Cuchet, Violaine
Hoje, o termo “Amazonas” é usado para falar de mulheres rebeldes e independentes, que rejeitam a dominação masculina, seja política, social ou sexual. O termo remete ao mito antigo das Amazonas, mulheres guerreiras, postas em cena nos poemas épicos (1), representadas em milhares de vasos ou esculpidas em pedra nos templos gregos. Desde a Antiguidade, essas personagens fabulosas estimularam ainda mais a imaginação, pois a função guerreira raramente era acessível às mulheres das cidades. As Amazonas da epopeia formavam um grupo localizado nas fronteiras do mundo grego (Ásia Menor ou Mar Negro). Nos textos, essas mulheres guerreiras não rejeitam uma dominação masculina generalizada, mas socorrem aliados, vingam uma afronta ou preservam a sua autonomia enquanto povo (2). Cada vez que, em alguma parte, sempre nos confins do mundo conhecido, traços de mulheres guerreiras eram atestados, os gregos os encaravam como sinais de descendentes daquelas beligerantes ancestrais. As Amazonas épicas tinham nomes próprios (Andrômaca, Pentesileia, Antiope, etc); de modo que elas podiam ser individualizadas tal como os heróis com os quais elas conviviam e com os quais tinham em comum a bravura e a excelência (3). Da mesma forma que as deusas, as Amazonas representavam a imagem fascinante de uma potência superior àquela dos simples mortais, homens ou mulheres.
Um seio decepado?
“[...] Elas são chamadas Amazonas, pois cortam o seio direito para evitar que o mesmo as incomode quando elas usam o arco (ὅτι τὸν δεξιὸν μαζὸν ἔτεμνον, ὅπως μὴ πρὸς τὰς τοξείας ἐμποδὼν γένηται). O que é falso, uma vez que isso lhes seria fatal. Helânico e Diodoro dizem que, para evitar que o seio crescesse, elas queimavam o local com um objeto de metal antes que ele começasse a se desenvolver (F. Jacoby, Die Fragmente der griechischen Historiker, Leiden: Brill [1923-1958; repr. 1954-1969], 4 F 107). É assim que Helânico, historiador grego do século V a.C., refuta uma ideia comum na sua época. As representações figuradas sempre mostram as Amazonas não mutiladas. Temos aqui um exemplo das tentações que certos gregos sentiam em racionalizar histórias maravilhosas.
As “tumbas” das Amazonas
As escavações feitas desde os anos 1990 nas regiões caucasianas, sobretudo nos kurganes, confirmam que a estepe era habitada, desde o final da Idade do Bronze até pelo menos o Império Romano, por povos de cavaleiros nos quais as mulheres e os homens participavam da caça e dos combates. A tecnologia mais recente atesta (análise de ADN) hoje que alguns defuntos com feridas de guerra e enterrados com suas armas eram mulheres. Contudo, é preciso levar em conta que as sepulturas femininas com depósitos de armas encontradas no nordeste do Mar Negro (sobretudo entre o Dom e o Volga), desde o século VI a.C., representam apenas 20% (no máximo) das tumbas femininas do contexto histórico estudado. Existiram de fato mulheres guerreiras na região do rio Dom, desde o século VI a.C., mas elas acompanhavam os homens e constituíam uma “classe” determinada por um estatuto social e idade específicas. Se não se tratava de Amazonas, no sentido épico, tratava-se efetivamente, contudo, de mulheres guerreiras.
As Amazonas modernas
Tornou-se comum, desde a Antiguidade, designar como “Amazonas” mulheres guerreiras julgadas excepcionais. Elas são, já para os gregos, Amazonas modernas, isto é, para eles seriam descendentes das ancestrais míticas e beligerantes. Assim, Artemísia, a rainha de Halicarnasso que enfrentou os atenienses na batalha de Salamina, em 480 a.C., é uma mulher guerreira que efetivamente existiu: ela viveu na Ásia Menor, em Halicarnasso, a cidade de Heródoto, que lhe dedicou muitas passagens em suas Histórias. Artemísia já era associada às Amazonas por seus contemporâneos, termo empregado como metáfora da guerreira resistente à ordem social (Aristófanes, Lisístrata, 675). Existiram muitas outras Amazonas modernas que não têm nenhuma relação com o povo das Amazonas antigas e poéticas, mas continuam sendo um mito maravilhoso que põe em cena a força e a autonomia das mulheres, sempre possível e em todos os domínios da vida social.